Se você está com suspeita de perda auditiva, ou suspeita que alguém de sua família está com esse problema, existem algumas informações importantes que podem ajudá-lo. Ressaltamos que essas informações são em caráter educativo, não substituindo em hipótese alguma uma consulta com um profissional habilitado.
Como funciona a audição?
A anatomia da orelha divide-se em três partes:
– Orelha externa: composta pelo pavilhão auditivo, conduto auditivo externo e tímpano;
– Orelha média: composta pelos ossículos martelo, bigorna e estribo, e pelo tímpano;
– Orelha interna: composta pela cóclea e nervo auditivo.
As ondas sonoras adentram o conduto auditivo externo fazendo com que tímpano vibre. As vibrações do tímpano são conduzidas pelos ossículos sendo que o último deles, o estribo, transmite o movimento para a cóclea, um órgão em forma de caracol com preenchimento fluido. Os movimentos do fluido coclear, provocados pelo contato como o estribo, acionam as células ciliadas, presentes no interior da cóclea, que convertem os movimentos em sinais captados pelo nervo auditivo. Esses sinais são conduzidos ao cérebro.
O que é e como se manifesta a perda auditiva?
A perda auditiva é caracterizada por uma diminuição no limiar auditivo a partir de 30 decibéis. A título de comparação, 30 decibéis são aproximadamente metade da intensidade de uma conversa normal. A perda auditiva pode manifestar-se de maneira gradual ou súbita, sendo que a perda súbita é percebida em um intervalo que vai desde um instante até aproximadamente 3 dias. Algumas pessoas percebem a perda auditiva súbita ao acordar pela manhã, outras ao usar o telefone. Alguns pacientes relatam ouvir um estampido antes de a audição diminuir, outros relatam uma diminuição gradual. A perda auditiva pode ser acompanhada de vertigem ou zumbido.
As perdas auditivas são classificadas como:
Perda auditiva condutiva – caracterizada pelo bloqueio da entrada do som na orelha externa, ou pela transmissão ineficiente do mesmo. Nesse caso a cóclea continua funcional, mas não recebe informação suficiente;
Perda auditiva neurossensorial – caracterizada pela lesão das células ciliadas da orelha interna ou no nervo auditivo. Nesse cenário as vibrações sonoras são transmitidas até a cóclea, mas não chegam até o cérebro;
Perda auditiva mista – uma combinação de perda auditiva neurossensorial e condutiva.
Perda auditiva condutiva:
A perda auditiva condutiva afeta a transmissão do som para a orelha interna, podendo ser causada por diversos fatores:
– acúmulo de cerúmen;
– perfuração da membrana timpânica;
– por danos nos ossículos – podendo ser causado por uma pancada forte, por cirurgia na orelha, ou por otoesclerose;
– infecções da orelha externa ou média;
– Hereditária – podendo ser causada por diversas síndromes ou causas genéticas;
Perda auditiva neurossensorial:
A perda auditiva neurossensorial é caracterizada por lesões nas células ciliadas da cóclea, ou danos no nervo auditivo, sendo que nem sempre é possível diagnosticar individualmente qual é a parte afetada. Existem diversas causas que podem conduzir a esse tipo de perda auditiva:
Envelhecimento (presbiacusia) – Consitui a causa mais comum de perda auditiva neurossensorial, e é uma deterioração gradual na audição comumente manifestando-se nas duas orelhas nas freqüências agudas. Estatísticas indicam que afeta uma a cada sete pessoas com mais de 65 anos;
Exposição a ruído (PAIR) – É a perda auditiva induzida por ruído, sendo causada pela exposição a ruídos intensos;
Otites (infecções da orelha interna) – Pode ser causada por uma infecção viral ou bacteriana, tendendo a se manifestar de forma súbita em diferentes níveis de severidade, podendo ser temporária ou permanente;
Hereditária – Pode ser atribuída a uma predisposição genética herdada, ou ocasionada por diferentes tipos de síndromes genéticas, podendo levar a perdas de graus variados;
Tumores benignos – Tumores pressionando o nervo auditivo, tipicamente afetando sons de freqüências agudas em uma única orelha. Pode estar associado a zumbido e tontura.
Trauma – É o dano à cóclea causado por uma pancada severa, ou pela seqüela causada por uma cirurgia na orelha;
Medicamentos ototóxicos – Alguns medicamentos podem causar danos permanentes ou temporários à cóclea, tipicamente afetando as freqüências agudas;
Doenças infecciosas – Doenças como meningite, caxumba, sarampo, entre outras, podem causar perda auditiva em vários níveis;
Doença de Meniere – É uma doença crônica que ocasiona o aumento de pressão do liquido que preenche o labirinto, causando labirintite e perda de audição em freqüências baixas, tipicamente afetando somente uma orelha e acompanhado de zumbido;
Prevenção:
Tratando-se de saúde, sabemos que a melhor alternativa é sempre a prevenção. Por esse motivo incentivamos o cuidado constante com a audição com a tomada de medidas simples, mas que podem evitar o surgimento de problemas futuros:
Higiene:
Deve-se evitar o uso freqüente de hastes flexíveis para a remoção de cera. (este hábito pode reduzir a lubrificação natural da orelha e provocar um bloqueio do som devido ao cerúmen impactado no fundo do conduto)
Não limpar o ouvido com a unha ou qualquer objeto. Para limpar e enxugar, use a ponta do dedo envolvido em uma toalha macia. A introdução de objetos no ouvido pode ocasionar uma perfuração no tímpano.
Sempre que a orelha estiver molhada seque-a com uma toalha, ou um pedaço de papel toalha caso não haja uma toalha disponível.
Nunca coloque objetos na orelha como forma de diminuir a coceira. (neste caso, procure um especialista).
Saúde:
Trate corretamente com a orientação de um médico, as gripes e infecções, principalmente relacionadas ao ouvido, nariz e garganta.
Jamais pingue nada no ouvido que não tenha sido receitado por um médico;
Ao praticar natação, use sempre protetores de ouvido para evitar a entrada de água;
Não mergulhe ou banhe-se em água suja ou contaminada, ela pode causar infecções de ouvido (otite);
Exposição a Ruídos:
Caso você trabalhe em um ambiente exposto a ruídos, tenha em mente que o fornecimento de protetores auriculares é uma obrigação do empregador, e utilizá-los corretamente é uma obrigação do funcionário. A exposição rotineira ao ruído é uma das causas mais freqüentes da perda auditiva, sendo que existem recursos para evitá-la. Ambientes laborais com ruídos excessivos podem incluir indústrias, campos de treinamento de tiro (artilharia), aeroportos e oficinas de aeronaves, cortadores de grama, cinemas, casas de shows, entre outros ambientes.
A utilização de aparelhos de fones de ouvido e de sons automotivos, principalmente pelo público mais jovem, é um dos principais fatores de perda auditiva na adolescência. O uso de som automotivo ou fones de ouvido com volume excessivo e uso constante pode causar danos severos à audição.
Cuidados com as crianças:
Verifique os níveis de ruído dos brinquedos antes de oferecê-lo aos seus filhos, pois a exposição de crianças a níveis altos de barulho podem provocar problemas de audição precocemente.
Objetos pequenos e pontiagudos como tampas de canetas, chaves de carros, lápis e grampos podem trazer grandes problemas caso introduzidos no ouvido por uma criança durante uma brincadeira. Convém não deixá-los ao alcance das mesmas;
Mantenha o nariz da criança sempre limpo e, se precisar, pingue soro fisiológico quatro vezes ao dia para auxiliar na limpeza.
Aspectos psicológicos e sociais da perda auditiva:
Lidar com a perda auditiva é diferente das outras deficiências, já que ela é invisível e os comportamentos e reações associados à perda auditiva nem sempre são aparentes.
O dia a dia normal na vida de um adulto deficiente auditivo pode incluir as seguintes dificuldades:
– ouvir alarmes ou telefones;
– entender o interlocutor ao telefone;
– entender a conversa quando mais pessoas falam ao mesmo tempo;
– entender a conversa quando não há contato visual com o rosto de quem fala;
– ouvir no carro, no vento ou no trânsito;
– entender a fala da TV;
– entender sussurros;
– entender a fala das pessoas em um ambiente grande;
– entender fala mal pronunciada ou com sotaque acentuado;
– não perceber que alguém está falando;
– entender sons em lugares públicos;
– fazer um pedido em um restaurante;
– compreender a fala de caixas ou de vendedores;
Indivíduos com audição normal freqüentemente acham que falando mais alto, ou aumentando o volume de um aparelho, vão possibilitar a um idoso com problemas de audição compreender o que está sendo dito. O volume não necessariamente é o problema: dificuldades com a identificação de sons e palavras podem estar presentes.
A perda auditiva tem um papel na maneira como os idosos percebem e reagem a estímulos ambientais. A necessidade de repetir e pausas mais longas nas respostas contribuem para percepções negativas de idosos com perda auditiva como sendo lentos.
A internalização desses estereótipos e a auto percepção negativa resultante certamente contribuem para sequelas emocionais. Adultos que tiveram perda auditiva quando eram mais jovens, embora relatem os aspectos negativos da perda auditiva, incorporaram isso em suas personalidades e desenvolvem formas de lidar com a perda auditiva em suas rotinas.
Isso comumente ocorre de uma maneira diferente para adultos mais velhos que desenvolveram perda auditiva em uma idade mais avançada. Esses indivíduos já desenvolveram uma personalidade que não incorpora essa deficiência, sendo acostumados a viver como pessoas ouvintes, e a perda auditiva pode desencadear nesses indivíduos uma crise de identidade, podendo até levar a uma depressão. Pessoas com perda auditiva reportam problemas frequentes de comunicação, podendo desencadear dificuldades de raciocínio e concentração, falta de atenção, distração, e até consequencias mais serias como a falta de interesse e a desistência de participar de atividades.
Esse conjunto de efeitos pode levar a um quadro de isolamento psicológico, sendo que muitos dos adultos com perda auditiva negam a deficiencia ou o impacto que ela exerce em sua qualidade de vida, podendo enfrentar muitas das mesmas inseguranças de qualquer pessoa com uma deficiência: Medo do preconceito, preocupações com a perda de relacionamentos importantes, ou empregos, ou em serem vistos como incapazes.
Algumas pessoas chegam a se sentir isoladas e solitárias até mesmo em relação a suas próprias famílias, sentindo falta de conversas triviais no dia-a-dia ou em eventos e passeios familiares. Esse quadro passa a afetar não somente a vida da pessoa com perda auditiva, mas de seus amigos e familiares, e por ser uma deficiência invisível não raro é subestimada e a percepção de seus efeitos danosos tende a ser minimizada.
O intervalo médio em procurar ajuda após o diagnóstico de perda auditiva varia entre alguns meses até vários anos, sendo que a conscientização e o apoio da família e dos amigos são fundamentais nessa decisão. As tecnologias atuais permitem o uso de aparelhos confortáveis e discretos, sendo alguns deles praticamente invisíveis. Os ganhos para a qualidade de vida e para a saúde psicológica são imediatos, sendo que mesmo durante o período de adaptação ao aparelho os ganhos já podem ser percebidos.
Sintomas, Exames e diagnóstico:
O diagnóstico da perda auditiva é feito por meio da audiometria, um exame onde o paciente é submetido a sons de diferentes freqëncias, de forma que se possa determinar os limiares de sensibilidade auditiva para cada faixa de freqüência individualmente. Esse exame é obrigatoriamente conduzido por um fonoaudiólogo, sendo que dependo do caso outros exames complementares podem ser realizados ou solicitados.
O resultado da audiometria é apresentado no audiograma, um gráfico que serve de base para determinar qual é o tratamento mais indicado, sendo indispensável para determinar o tipo de aparelho auditivo a ser utilizado pelo paciente, quando for o caso: